quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Medo ou Amor?



Assim como dois caminhos não podem ser seguidos ao mesmo tempo por uma única pessoa, duas escolhas sobre um mesmo tema não podem ser feitas. Aquele que vai à guerra por sentir-se cumprindo seu dever patriota, não pode, ao mesmo tempo, ficar ao lado da esposa e de sua família. Quem escolhe continuar, não pode, simultaneamente permanecer. A vida é uma constante troca de uma coisa por outra e é importante aceitar isso.

 
Quando o caminho bifurca e o destino faz uma pergunta, qual a melhor escolha? Em qualquer espaço ou tempo, pergunte-se: “O que o amor faria?”


A resposta a esta pergunta poderá tirar-lhe do ardor de diversas consequências advindas de uma escolha mal feita. O amor cabe em qualquer lugar e hora, permanecendo como a mais acertada forma de ser e fazer feliz.


Qualquer outra escolha que não seja por amor, certamente será por medo. Você está se perguntando: “Medo?”.


Se o medo de perder o que nem é seu se chama ciúme, o amor ao direito de simplesmente escolher estar ao lado chama-se liberdade. Se o medo de admitir que você também erra chama-se rancor, a amorosa visão de que ninguém é melhor que ninguém chama-se perdão.
Se formos pensar, tudo o que não nos faz bem são medos disfarçados e tudo o que nos torna melhores e felizes é o amor.




Medo de si mesmo é não gostar-se e aí, é bom saber que você pode reinventar-se a todo momento. Amor por si mesmo é gostar-se e aí, a energia contagiante de fazer com que todos ao seu redor sintam-se atraídos por você, chama-se auto-estima.


O que você tem escolhido? Na hora de viajar, por exemplo, pergunte-se: Estou deixando de ir por medo, estou indo por medo, estou ficando por amor ou estou indo por amor? E lembre-se, amor é algo que só pode existir, quando antes existe por você próprio. Ame-se mais para amar mais. Não ama, apenas acha que ama, aquele que diz que ama mas nem sabe o que é amor próprio. Medo ou amor? A escolha é sua e cada segundo de sua vida lhe perguntará isso."



Victor Chaves -(Vitão) 27/04/2009

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

HALLELUJAH

Hallelujah é uma canção escrita pelo compositor canadiano Leonard Cohen. Originalmente fez parte do álbum Various Positions (1985). O tema foi gravado mais de 180 vezes por diversos artistas, tendo sido utilizado em vários filmes e emissões televisivas.


Ao ouvir esta canção, podemos constatar que a sua melodia é quase litúrgica e que nos pode conduzir facilmente a uma experiência espiritual. Hallelujah interessa-nos sobretudo porque contém diversas referências bíblicas. Para começar, o seu título é uma palavra hebraica que significa “louvai o Senhor”. É uma exclamação utilizada na liturgia e nos salmos.


O sujeito da canção parece ser David, o rei que compunha e tocava música para o Senhor. A Bíblia descreve, com efeito, que tocava harpa para acalmar o rei Saul.

“E sempre que o mau espírito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau deixava-o.” (1 Samuel 16,23)
O segundo verso da canção lembra a história de David e Betsabé:

“E aconteceu que uma tarde David levantou-se da cama, pôs-se a passear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa. David procurou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsabé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita. Então, David enviou emissários para que lha trouxessem. Ela veio e David dormiu com ela, depois de purificar-se do seu período menstrual. Depois, voltou para sua casa.” (2 Samuel 11,2-4)


A narrativa descreve a maior falta do rei David: além de Betsabé ser casada, o monarca aproveitou-se do seu poder para fazer com que o marido, Urias, fosse morto:


“Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e morra.” (2 Samuel 11,15).


Seguidamente, a composição evoca outra narrativa bíblica: “She broke your throne and she cut your hair”. Reconhecemos aqui a história de Sansão, o homem quase invencível, que foi vencido por Dalila. Ela seduziu-o, com o objectivo de encontrar o seu segredo:


“Sobre a minha cabeça jamais passou a navalha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!” (Juízes 16,15-17)


Dalila acabaria por cortar os seus cabelos; depois, chamou os Filisteus, que o mataram.


O terceiro verso tira uma conclusão das duas histórias anteriores: “Love is not a victory march. It's a cold and it's a broken.” O amor é frio e estaladiço, pois foi o amor de uma mulher que despedaçou David e Sansão. Cohen estabelece uma ligação com a sua vida: “I have been here before I know this room, I've walked this floor”. Também ele conhece amores assim.


Depois, o autor relaciona o acto sexual com Deus: “And remember when I moved in you, The holy dove was moving too, And every breath we drew was Hallelujah.” A ligação entre a pomba e o Espírito de Deus é bem evidente na narrativa do baptismo de Jesus:
“Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba.” (Marcos 1,10)

Em hebraico e em grego, a palavra para “espírito” é a mesma para “sopro”. Compreende-se porque é que Cohen faz uma ligação entre a respiração dos amantes e a de Deus.


“You say I took the name in vain” alude, provavelmente, a um dos dez mandamentos: “não usarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão” (Êxodo 20,7). O nome de Deus foi revelado a Moisés na sarça ardente: “«Eu sou aquele que sou.» Ele disse: «Assim dirás aos filhos de Israel: ‘Eu sou’ enviou-me a vós!»” (Êxodo 3,14)



No último verso, Cohen parece falar a Deus, dizendo-lhe que, durante a vida, fez o melhor que podia: “I'll stand before the Lord of Song With nothing on my tongue but Hallelujah”. Na sua língua, apenas subsiste uma palavra: Hallelujah.


Na minha opinião a melher versão até agora é de Damien Rice

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

SOBRE O AMOR, ROSAS E ESPINHOS...

Amor que é amor dura a vida inteira. Se não durou é porque nunca foi amor.


O amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até às traições. Sem perdão não há amor. Diga-me quem você mais perdoou na vida, e eu então saberei dizer quem você mais amou.
 O amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão. Você o percebe no momento em que o outro fez tudo errado, e mesmo assim você olha nos olhos dele e diz: "Mesmo fazendo tudo errado eu não sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto."


O amor nos possibilita enxergar lugares do nosso coração que sozinhos jamais poderíamos enxergar.


O poeta soube traduzir bem quando disse: "Se eu não te amasse tanto assim, talvez perdesse os sonhos dentro de mim e vivesse na escuridão. Se eu não te amasse tanto assim talvez não visse flores por onde eu vi, dentro do meu coração!"


Bonito isso. Enxergar sonhos que antes eu não saberia ver sozinho. Enxergar só porque o outro me emprestou os olhos , socorreu-me em minha cegueira. Eu possuia e não sabia. O outro me apontou, me deu a chave, me entregou a senha.


Coisas que Jesus fazia o tempo todo. Apontava jardins secretos em aparentes desertos.


Na aridez do coração de Madalena, Jesus encontrou orquídeas preciosas. Fez vê-las e chamou a atenção para a necessidade de cultivá-las.


Fico pensando que evangelizar talvez seja isso: descobrir jardins em lugares que consideramos impróprios.


Os jardineiros sabem disso. Amam as flores e por isso cuidam de cada detalhe, porque sabem que não há amor fora da experiência do cuidado. A cada dia, o jardineiro perdoa as suas roseiras. Sabe identificar que a ausência de flores não significa a morte absoluta, mas o repouso do preparo. Quem não souber viver o silêncio da preparação não terá o que florir depois...


Precisamos aprender isso. Olhar para aquele que nos magoou, e descobrir que as roseiras não dão flores fora do tempo, nem tampouco fora do cultivo.


Se não há flores, talvez seja porque ainda não tenha chegado a hora de florir. Cada roseira tem seu estatuto, suas regras...


Se não há flores, talvez seja porque até então ninguém tenha dado a atenção necessária para o cultivo daquela roseira.


A vida requer cuidado. Os amores também. Flores e espinhos são belezas que se dão juntas. Não queira uma só. Elas não sabem viver sozinhas...


Quem quiser levar a rosa para sua vida, terá que saber que com ela vão inúmeros espinhos.


Mas não se preocupe. A beleza da roza vale o incômodo dos espinhos... ou não.



Pe. Fábio de Melo

Céu de Indaiatuba

Eu olho o céu! Imensamente perto,

o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim,

tão perto e tão amigo que parece

um grande olhar azul pousado em mim.





Mário Quintana

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Cora Coralina


Se temos de esperar,

que seja para colher a semente boa

que lançamos hoje no solo da vida.

Se for para semear,

então que seja para produzir

milhões de sorrisos,

de solidariedade e amizade.

Uma Questão de Escolha




O coração anda no compasso que pode. Amores não sabem esperar o dia amanhecer. O exemplo é simples. O filho que chora tem a certeza de que a mãe velará seu sono. A vida é pequena, mas tão grande nestes espaços que aos cuidados pertencem. Joelhos esfolados são representações das dores do mundo. A mãe sabe disso. O filho, não. Aprenderá mais tarde, quando pela força do tempo que nos leva, ele precisará cuidar dos joelhos dos seus pequenos. O ciclo da história nos direciona para que não nos percamos das funções. São as regras da vida. E o melhor é obedecê-las.

Tenho pensado muito no valor dos pequenos gestos e suas repercussões. Não há mágica que possa nos salvar do absurdo. O jeito é descobrir esta migalha de vida que sob as realidades insiste em permanecer. São exercícios simples…

Retire a poeira de um móvel e o mundo ficará mais limpo por causa de você. É sensato pensar assim. Destrua o poder de uma calúnia, vedando a boca que tem ânsia de dizer o que a cabeça ainda não sabe, e alguém deixará de sofrer por causa de seu silêncio.

Nestas estradas de tantos rostos desconhecidos é sempre bom que deixemos um espaço reservado para a calma. Preconceitos são filhos de nossos olhares apressados. O melhor é ir devagar.

Que cada um cuide do que vê. Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar, na palavra que que escolhemos dizer.

É simples…

Pe Fabio de Melo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Oswaldo Montenegro -Metade

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Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio

 
Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito

Mas a outra metade é silêncio.

 
Que a música que ouço ao longe

Seja linda ainda que tristeza

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada

Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade.

 
Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas

Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo.

 
Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço

Que essa tensão que me corrói por dentro

Seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.



Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

 
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso

Que eu me lembro ter dado na infância

Por que metade de mim é a lembrança do que fui

A outra metade eu não sei.

 
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

Pra me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço.

 
Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é platéia

E a outra metade é canção.

 
E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade também.